domingo, 21 de outubro de 2018

Amigos do quintal

Em Outubro ou secam as fontes ou passa a água por cima das pontes.

Provérbio popular



Ouriço cacheiro


Frequentemente, ao inicio da noite, vem visitar o meu quintal um Ouriço Cacheiro. Mais raramente, este simpático visitante, também aparece durante o dia, como aconteceu quanto tirei estas fotos.  Este animal, foi muito rápido a movimentar-se e desaparecer, pelo que me foi difícil obter uma foto da sua simpática cara (focinho). Estes furtivos amigos do hortelão, são frequentadores do meu quintal há vários anos, ajudando-me a controlar entre outros nocivos do quintal, as lesmas e os caracóis. Penso que não será sempre o mesmo, pois já os vi de tamanhos diferentes. Como em média sobrevivem três anos, e podem chegar aos dez é provável que sejam vários a visitar o meu quintal. 


Este facto leva-me a crer, que deve ser uma família com "residência" na bouça, perto do meu quintal.
Por vezes, quando à noite estou no exterior da minha casa e oiço o restolhar da vegetação, munido de uma lanterna, procuro e normalmente encontro sempre um ouriço na azafama da busca de comida. Porque gosto destes simpáticos animais, fico contente quando os encontro.  


Quando as minhas filhas eram pequenas e frequentavam o infantário, certa manhã, encontrei um ouriço bem grande, apanhei-o, acomodei-o numa caixa de cartão e levei-o aquando a elas para o infantário. Quando coloquei a caixa no chão da sala com todas as crianças ao redor e a abri, houveram reacções de medo, espanto, curiosidade, admiração e muita alegria. 


Depois de uma pequena palestra sobre o ouriço, levei-o e devolvi-o à natureza no mesmo local, com um sincero pedido de desculpa, pelo provável stress causado. Certamente desculpou-me, porque deve ter compreendido que foi por uma boa causa. Fiz isto, para que as crianças que naquela idade provavelmente nunca tinham visto um animal daqueles, o pudessem ficar a conhecer e a respeitar.

Foto: freeimages.com
As principais causas de morte dos ouriços, são os atropelamentos e a fome durante a hibernação. Também servem de alimento a alguns animais, como texugos, raposas, martas e outros carnívoros e algumas aves de rapina. Quando se sente ameaçado, enrola-se ficando imóvel em forma de uma bola, escondendo as partes desprovidas de espinhos, só se desenrolando quando sente que o perigo já passou.


Há já algum tempo, fiz uma formação na área da cerâmica. No final, fomos convidados a  realizar um trabalho individual, para oferecer à orientadora da formação. Como podem ver na foto acima realizada por uma colega, eu optei por fazer um ouriço cacheiro, (na foto ainda sem os "espinhos")  com interacção entre dois materiais: barro e madeira. 


Nesta foto realizada pela mesma colega, podemos ver o ouriço terminado. Foi grande a satisfação da orientadora, quando lhe ofereci e entreguei o trabalho terminado. 
A enorme quantidade de ouriços e de sapos mortos e espalmados nas nossas estradas, são o reflexo de um país com uma maioria de população, insensível, egoísta e indiferente à natureza que a rodeia. Esta maioria, quando conduz veículos automóveis é incapaz de fazer um pequeno desvio para evitar a morte destes animais. Tristemente, uma parte desvia-se, mas para cima do animal. Porque muitas estrada foram e ainda são construídas atravessando os seus habitats e locais de procriação, separando-os, estes e outros animais deveriam ter em certos locais protecções e passagens próprias, para que não tivessem necessidade de atravessar as faixas de rodagem, que são para eles autenticos matadouros. 


Mas para não falar só de coisas espinhosas, deixo aqui uma foto das minhas flores silvestres, capturada no verão, com uma flor de Nigella e uma flor de Calystegia, que eu julgava ser uma Ipomea, mas não é.


E porque a seguir ao pôr do sol vem sempre uma noite e um dia a seguir, aqui fica um magnifico pôr-do-sol, com o monte de Santa Tecla em fundo, capturado desde a minha casa.


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ALMINHAS



"Ó tu mortal que vais passando
lembra-te das almas
que no purgatório estão penando".

Esta é uma quadra que frequentemente se vê nas diversas construções de alminhas, que ladeando caminhos ou em encruzilhadas por Portugal fora, vão chamando a atenção de quem passa, lembrando-nos que a nossa existência, não se resume unicamente aquilo que é material. Como todas as outras, a minha paróquia também têm as suas alminhas. A sua construção, talvez de meados do século vinte, em forma de uma micro-capelinha, bonita, de estilo refinado, edificada em pedra lavrada de granito azul, implantada no centro de um entroncamento, tem um formato triangular o que a torna muito singular, pois tem cada uma das três faces, viradas para as três estradas que a ladeiam. 
Passava diariamente perto dela e num dia de Agosto, vi-a rodeada por um bonito tapete azul de flores de agapanto, o que foi para mim uma inspiração, que tentei retratar numa tela da melhor forma que sei. 

As alminhas da minha paróquia

Finalidade das alminhas

As milhares de alminhas edificadas e dispersas pelo país, são representações de arte popular. Toscas ou trabalhadas a primor, têm todas a mesma finalidade: Confrontar os vivos que passam, apontando-lhes a relativa fragilidade da vida e o peso inevitável da morte. Têm também o conceito cristão, de lembrar as almas dos defuntos, pedindo para elas, as orações dos fieis ainda vivos. 


Trabalho com o fundo da paisagem concluído.
As alminhas, são monumentos de uma das expressões mais originais da arte popular portuguesa. De grande valor cultural, expressam a religiosidade do nosso povo. Muito se escreveu sobre estes populares monumentos. A seguir transcrevo excertos de textos sobre este tema, publicados no blogue: snpcultura.org

Aqui com as folhas dos agapantos e algumas flores por terminar

Portugal é o único país do mundo que possui no seu património cultural, localizadas habitualmente à beira de caminhos rurais e em encruzilhadas, as alminhas, representações populares das almas do Purgatório que suplicam rezas e esmolas e que frequentemente surgem em micro-capelinhas, padrões, nichos independentes ou incrustados em muros ou nos cantos de igrejas, painéis de azulejo ou noutras estruturas independentes."

Trabalho concluído
Tela 50 x 50 com tinta de óleo

"As alminhas são uma criação genuinamente portuguesa e não há sinais de haver este tipo de representação das almas do Purgatório, pedindo para os vivos se lembrarem delas para poderem purificar e "subir" até ao Céu, em mais lado nenhum do mundo a não ser em Portugal", afirma António Matias Coelho, professor de História, investigador de manifestações da cultura religiosa e popular
."


Pormenor
"São frutos de uma época em que se vivia devagar, mas de modo mais intenso, calcorreavam-se caminhos rurais de pé posto, junto aos quais se "plantavam" muitas alminhas, e se votava tempo aos antepassados com o temor reverencial de que a morte seria comungada por todos os vivos."

Manuel Fernandes Vicente, In Público, 02.11.2009