quarta-feira, 26 de abril de 2017

A CRUZ


























Se a cruz de cada um fosse dourada.
De nuvens feita, no azul do céu desenhada.
Que feliz seria a vida, tão perturbada.
Como seria fácil tamanha cruz ser levada.

Mas a cruz é negra, de sangue encarnada.
De dor e angustia, de sofrimento, pesada.
Porque a vida é luta de lágrimas e sal amassada.
E esta cruz custa tanto ao calvário ser levada.

                                                     M. Machado 04-2017

A criança é o pai do homem.( William Wordsworth in "My Heart Leaps Up")
Significa que o homem conserva e amplia as virtudes e os defeitos que adquiriu na infância. 


Fonte: Selecções do Reader's Digeste

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Domingo de ramos...e flores


Manhãzinha cedo parti para fotografar umas flores que tinha observado uns dias atrás, O sol nasceu quando eu já ia no caminho e eu aproveitei para tirar algumas fotografias. 

O sol prestes a "nascer" sobre a Montanha da Penha
Desde o Solstício de Inverno, o sol no seu movimento aparente de Este para Oeste, já se deslocou um pouco para a direita e agora durante algum tempo, "nasce" por trás da montanha da Penha, sobranceira à cidade de Guimarães.

Parte das vinhas de Sezim
Caminhando por entre vinhas renovadas com bacelos novos e já a prometer boas colheitas para produzir o precioso néctar, afagou-me o rosto uma brisa morna e agradável que me fez sentir uma sensação de bem-estar. Num pinhal próximo, um Cuco com o seu canto monocórdico, era respondido por uma carriça, que perto de mim, com o seu canto rápido mas elaborado e melodioso, mais parecia que estava a repreender o Cuco, dizendo-lhe como se deve cantar.

Um bugalho na luz da manhã
Chamou-me a atenção, um bugalho iluminado pelas nuances dos verdes da luz filtrada pelas folhas translucidas de um carvalho.
Continuando a caminhada, alcancei a parte superior das vinhas. Visão bonita, com as mil tonalidades de verdes, que só o inicio da Primavera é capaz de nos oferecer. Os contornos distantes diluídos pela neblina da manhã, emprestavam à paisagem um ar de serenidade.
Continuando a caminhada cheguei ao local onde se encontravam as flores que queria fotografar.

Scilla paivae com flores brancas

São planta discretas mas raras, pois nunca vi, nem plantas, nem fotos desta variedade de Scillas, com as flores brancas.

Pormenor das flores brancas da Scilla Paivae
Nesta esta altura do ano, aqui na região, por entre eucaliptos, carvalhos e sobreiros, nas encostas viradas ao norte, as flores desta planta, preenchem os mais recônditos cantos, criando lindas composições em tons de azul, como eu já mostrei em mensagem anterior. Com as flores na cor branca, são as primeiras que eu vi. Pesquisando na Net, não encontrei nenhuma informação sobre esta variedade.

Flores da Vicia angustifolia
Na volta para casa, caminhado por entre as fileiras rigidamente alinhadas dos postes que seguram os bacelos, chamou-me a atenção o rosa destas pequenas flores. Pertencem a uma pequena planta trepadora, que nós chama-mos, (a esta e outras parecidas), de serradela, mas que os entendidos nestas coisas, nomearam de Vicia. 

Um jovem Sardão
Na margem do caminho que atravessa um dos campos da vinha, tem uma formação rochosa, que provavelmente por  ficar dispendiosa a sua remoção e de se encontrar no limite do campo, foi deixada ficar. Sei que tem características e localização para nela habitar um Sardão, e não me enganei. Percorri-a atentamente com o olhar  e lá estava um, imóvel controlando os meus movimentos, pois já me tinha avistado, muito antes de eu o avistar a ele. Andando lentamente e sem gestos bruscos consegui aproximar-me dele para o fotografar, sem que fugisse. Se proceder-mos desta maneira, podemos aproximar-nos até bem perto, sem que eles fujam. 

Flor de Malmequer ou Rosa amarela,  com uma aranha-caranguejo-de tubérculos
Uma flor pode ser mais que uma simples flor. Amor, quando se oferece a alguém que se ama. Perfume, quando a química com elas faz magia. Alegria, quando se dá a quem delas gosta. Tristeza, quando oferecida porque uma vida findou, e muitos outros sentidos se lhe podem atribuir, mas, também pode ser uma morada, neste caso a de uma aranha. Esta bonita aranha, fez desta, a sua casa e armadilha. A flor tem espalhados, vários fios de seda da aranha para apanhar os insectos que nela pousarem. Esta espécie de aranha, tem a capacidade de se mimetizar, com as cores do local onde se encontra, para não ser detectada pelas presas que caça e de quem se alimenta.

Expectativa
Um ruído de vozes chamou-me a atenção. Olhei e vi este grupo de ciclistas, que depois de descer a ladeira íngreme e traiçoeira, porque tem muito areão solto, ficou a aguardar pelos dois colegas mais atrasados e menos lestos, na expectativa de ver como desceriam a ladeira.

Tranquilidade
A descida fez-se com sobressaltos e exclamações de avisos, mas sem problemas e o grupo, exclamando saudações de bom-dia ao passar por mim, continuou tranquilamente a sua marcha.

Trifolium medium subsp. medium

O trevo com os seus "pompons" (inflorescências) de flores, que vão do branco passando pelo amarelo, rosa até ao vermelho, é uma das plantas que dá colorido aos nossos prados. Planta forrageira é também utilizada  na medicina tradicional.  

Maias brancas,-Cytisus multiflorus
Muito há para contar sobre as maias, mas fica para outro dia. Contrariamente ao que o seu nome sugere, as maias, florescem em Abril.

Serradela amarela - Ornithopus compressus L.
     Manuel!?...
     Mãe!
     O teu grilo não canta!...Não o deixes passar fome!
E lá ia eu para a bouça, procurar serradela fresca, para colocar no fundo da gaiola, (comprada na festa na Senhora, a gaiola, claro).  O grilo, (apanhado por entre a relva no coradouro da roupa), mastigava algumas folhas e como para agradecer a atenção, começava a cantar.
E era assim. Diálogos simples, de gentes simples, com coisas simples, de tempos simples que não voltam mais.

Flores de uma variedade de Echium ou Soagem
Apesar do seu aspecto desgrenhado e dos seus pequenos mas agressivos espinhos, algumas variedades de Soagens, brindam-nos com belas flores, com tons que vão do rosa ao violeta. Tal como o Trevo, a Soagem, também cria extensos tapetes de flores azuis, que enchem de colorido não os prados, mas os terrenos incultos. Planta com importância melífera e com muitas aplicações na medicina tradicional. 

Branco é, e a galinha não o pôs.
Indiferente à minha passagem, de olhar entorpecido, de quem está ensonado, este lindo gato, aquecia-se ao sol da manhã.

flor de jasmim
O meu Jasmim já começou a florir, dando um toque de candura e exalando o seu requintado perfume. 
Esta planta, tem origem em zonas dos Himalaias, China, Oriente Médio e Índia. O consumo de chá com folhas de Jasmim, pode proporcionar diversos benefícios para quem o consome. Na China e Japão, misturam-se flores de Jasmim com folhas de chá, e a combinação do sabor e aroma resultante é muito aprazível. O perfume doce e penetrante das flores, age como calmante e relaxante. O seu doce aroma é juntamente com o da rosa, um dos aromas pilares da perfumaria. Era tradição nos países árabes, plantar um Jasmim, junto à porta da entrada das residências, para receber os visitantes, com uma agradável fragrância de boas-vindas.

domingo, 2 de abril de 2017

A Primavera continua

O primeiro dia de Primavera foi um dia cinzento e frio. Felizmente, alguns dias depois, o sol voltou a brilhar, despertando em mim a vontade de calcorrear "montes e vales". De cajado, mochila e máquina fotográfica, lá fui eu, manhãzinha bem cedo, ao encontro da natureza.

A flor masculina do pinheiro bravo
As flores masculinas do pinheiro, largando as brácteas. Que formas e cores sublimes

Inflorescências de flores masculinas do pinheiro bravo.
Normalmente, as flores dos pinheiros são difíceis de fotografar, pois só aparecem na fase adulta da árvore, quando a copa já está fora do nosso alcance. Este é um caso de excepção. Tirei estas fotos, ás flores de um pinheiro que cresceu em cima de umas rochas saibrentas. Como tinha pouco substrato para aprofundar todas as raízes, durante um vendaval tombou, mas parte das raízes estão infiltradas nas rochas, impedindo que a árvore seque e desta forma, que o seu desenvolvimento continue.

Pólen desprendendo-se das flores.
Um pequeno toque no ramo, e uma nuvem dourada de pólen, desprende-se das flores. Quem sabe, se para ficar por ali perto, ou viajar milhares de quilómetros.

Pinheiro tombado

Nesta fotografia, pode ver-se no lado esquerdo, o pinheiro tombado. Parecem vários pinheiros mais pequenos, porque os seus ramos passaram a crescer na vertical. Curiosamente e apesar de ter só parte das raízes fixadas no solo, tem melhor desenvolvimento que os que continuaram na vertical.

Violetas silvestres
Humildes, tímidas mas não discretas, chamam a atenção de quem passa, porque o seu colorido contrasta com o verde circundante. Alem do nome de flor é nome de mulher e de instrumento musical. 

A flor da Violeta

Inspiradora de poetas, utilizada em perfumaria, na medicina tradicional e associada aos nativos de Sagitário. As violetas, são desde tempos imemoriais, uma das muitas plantas utilizadas pela humanidade. Era a flor preferida do meu pai. Algumas vezes, quando me deslocava à cidade do Porto, ia ao Mercado do Bolhão e comprava um raminho de violetas para lhe oferecer. Como era bom vê-lo sorrir.

Acácia longifolia: Acácia-de-espigas ou Acácia-de-folhas-longas.
Apesar da beleza das suas flores a  Acácia-de-espigas, não é nada "bonita" para a nossa flora, pois é uma planta invasora. Os impactos das plantas invasoras, reflectem-se de forma negativa no meio ambiente, afectando plantas autóctones, fauna, solo e recursos hídricos.

Pormenor das flores da Acácia-de-espigas ou Acácia-de-folhas-longas.
Nunca é de mais lembrar que, de modo geral, as espécies exóticas, ao competirem com as espécies nativas, causam impactos no equilíbrio dos habitats e ecossistemas, reduzindo a biodiversidade.

Adicionar legenda
Numa velha quinta em ruínas, na margem do caminho que leva à antiga entrada, floresce este pé de Miosótis. Esta elegante flor é conhecida popularmente pelo nome de Não-me-esqueças.  Fazendo justiça ao seu nome, ela cresce junto a um pilar, que resta do portal de entrada, para que quem entre a veja e dela não se esqueça. 

Flores de Miosótis
A flor do Miosótis significa recordação, fidelidade e amor verdadeiro. É também conhecida como Merugem e Não-te-esqueças-de-mim. São várias as lendas associadas à origem do nome "não-me-esqueças". 
Uma lenda diz, que num belo dia de Primavera, dois jovens apaixonados se encontravam à margem de um rio. Nas águas turbulentas, a jovem avistou um ramo de miosótis flutuando e ficou maravilhada pela beleza da flor. O seu amado, mergulhou então para apanhar as flores e oferecê-las à sua namorada. No entanto, quando tentou voltar para a margem, foi arrastado pela forte correnteza. Esta lenda conta que pouco antes de desaparecer, ele gritou para a sua amada: "Não me esqueças, ama-me para sempre!". A partir desse dia, a flor do miosótis passou a crescer nas margens dos rios, para que mais ninguém, tivesse que morrer por sua causa. 

Fonte da lenda: www.significados.com.br

sábado, 1 de abril de 2017

Finais de Março

O mês de Março chegou ao fim. Não queria que este mês acabasse sem chamar a atenção para uma das suas particularidade,  à qual, por aqui, chama-mos "o Frio da Rama". Todos os anos, por meados deste mês, acontecem dias soalheiros em que as temperaturas sobem, rondando os vinte graus. Ora estes prazenteirosos dias, dão-nos a ilusão de que a Primavera já se instalou antecipadamente. Guardam-se as roupas mais grossas, vestem-se roupas mais ligeiras, os braços passam a andar ao léu, ocupam-se as esplanadas, etc... Passamos a ter a sensação, de que o frio só regressará no próximo Outono, mas, esta Primavera antecipada é pura ilusão, pois quando começa a despontar a rama das árvores, principalmente as dos carvalhos, infalivelmente, mais dia menos dia, as temperaturas descem e o frio instala-se novamente. Este ano não foi excepção e Março cumpriu com a tradição, brindando-nos com alguns dias de sol primaveril, por meados do mês, para logo de seguida, nos presentear com dias de vento frio, chuva e até com com nevões nas terras altas.
Março é assim! Por estas e por outras, lá diz o povo que:

"Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão".

O despontar da rama num bosque
Carvalhos, amieiros, cerejeiras em flor e outras espécies. É o mês de Março com a rama a despontar, criando a sua paleta de subtis nuances de verdes.

As "candeias" dos carvalhos

Os amentilhos da floração dos carvalhos, também chamados de candeias aqui na minha região. Muito discreta na cor, pois confunde-se com a rama, a abundante floração dos carvalhos com os seus amentilhos, faz lembrar os frocos das sedas chinesas.

Botões de macieira silvestre
As macieiras silvestres com os seus botões de vermelho escarlate, quebram a hegemonia dos verdes.

Flores da minha Forsítia 
A minha Forsítia com as suas flores. Centelhas de sol, que o Março guardou, para nos alegrar em dias cinzentos e nos lembrar que para além das nuvens, o sol está sempre a brilhar.

A Serra Amarela em meados de Março, vista da minha casa.
A Serra, que em tempos idos, durante a Primavera  e o Verão, se vestia de amarelo com o manto das flores que a cobriam e das quais restam esparsos retalhos, provavelmente devido aos incêndios e à consequente erosão. Quase de repente, fazendo justiça aos provérbios, Março brinda-nos com estas imagens de rara beleza, cobrindo-a com um alvo manto.

Serra do Soajo, vista da minha casa.
Quem sabe?...Talvez Março, com dó das serras, querendo ocultar as chagas que o fogo causou e lhe expuseram os ossos, cobriu-as de branco para iludir e dar uma fugaz alegria, a quem de longe as contempla.

Flor de Azalea do meu jardim

A natureza criou a Azalea para colorir e alegrar os dias frios e cinzentos do inverno. Quando as outras plantas se encontram em repouso, a Azalea já alegra os canteiros dos nossos jardins. A sua floração começa nos meses do Inverno e prolonga-se pela Primavera.

Erva-das-sete-sangrias
Bordejando os caminhos, nas encostas dos pinheirais e sobreirais, sempre meia oculta entre silvas e matos, como quem tem vergonha de se mostrar, a  Erva-das-sete-sangrias, com as suas pequeninas flores de um intenso azul, não passa despercebida, aos olhos de quem caminha. Encantam-me estas flores, pelo azul da sua cor.

Em Março, bouças e campos, tudo é verde da cor da esperança.
Soalheiros dias de Março, de esperanças renovadas nas mil e uma nuances do verde, que me fazem lembrar, o poema do nosso grande Luís Vaz de Camões:

Verdes são os Campos


Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

                                                               Luís de Camões (1524-1580)

Clique nesta ligação para ouvir o poema cantado; Verdes são os campos