quinta-feira, 28 de setembro de 2017

SETEMBRO II


Setembro, traz-me nas memórias da minha infância, entre outras, o cheiro das figueiras e o sabor doce dos figos, o perfume e as cores das flores tradicionais, que sempre havia no nosso jardim e no quintal, e que eram cuidadas pela minha mãe. O sabor agri-doce das uvas Borraçal e o sabor bem doce das uvas Vinhão. O cheiro do mosto, depois da vindima das nossas uvas. Vagamente, muito vagamente, lembro-me também dos dias de férias em criança, passados em família, na praia da Póvoa de Varzim. Doces, como a fruta bem madura, são as lembranças desses dias.

As flores


As flores da minha infância são de variedades muito antigas e populares. Naquele tempo as variedades de flores desta época do ano, pouco mais eram que estas. Não haviam muitas das variedades que há agora.
Porque foram omnipresentes na minha vida, sinceramente, acho que agora seria muito triste para mim, passar um dia sem ver flores.
Na casa onde nasci, houveram sempre; no quintal, couves para o caldo, e no jardim, flores para alegrar a casa e o próprio jardim. Rústicas, resistentes, bonitas e generosas como as pessoas daquele tempo, estas são as variedades de flores que a minha mãe semeava e cuidava e que por esta altura do ano ainda floresciam e alegravam a casa e o nosso jardim.

Cosmos
Os Cosmos nem era preciso semear-los, rústicos como são, as sementes que caiam na terra, germinavam no ano seguinte. São flores que alegram o Verão o Outono e parte do Inverno.

Cosmos amarelo-castanho
Para quebrar a hegemonia do rosa e branco, cresciam também Cosmos nas cores amarelo-castanho.

Sécias
Imagem: jparkers.co.uk
As Sécias com os seus encantadores pom-poms  e o seu forte colorido enchiam de cor,  o espaço onde cresciam.

Centaureas na cor Roxo
As Centaureas roxas, com os seu pequenos pom-poms e as suas pétalas que parecem recortadas à mão.

Cravos-jaropes
Os Cravos-jaropes (nome mais comum aqui na região), também chamados Cravos Xaropes, Cravos-da-Índia ou Tajetes, de cultivo fácil e muitas vezes espontâneos,  resplandeciam como pequenos sois, iluminando o nosso jardim.

Esporas cor de rosa

As flores das Esporas, de fragrância encantadora, simples e rústicas, com as suas cores em tons de aguarela, tinham sempre o seu lugar no nosso jardim.

Esporas azuis
As flores das Esporas têm a curiosidade de o seu centro se assemelhar à cabeça de um pequeno coelho. Por esse motivo os ingleses também chamam a esta flor Little-Bunny. E você, consegue ver a cabeça do coelhinho, com os seus dentinhos salientes?

Beladona ou Lírio de Nossa-Senhora

A Beladona ou Lírio-de-Nossa-Senhora, com os seus grandes bolbos escondidos na terra durante parte do ano,  em Setembro, aparecia como por magia do nada,  com as suas grandes flores perfumadas e em forma de cálices. Todos os anos sempre no mesmo local, anunciava que o fim do Verão estava próximo.

Fins-de-Verão
Este girassol mais pequeno, com esta bonita flor, também florescia no nosso jardim. Lembro-me que lhe chamavam Fins-de-Verão, talvez por florescer de Setembro até Outubro. O seu nome oficial é Heliantus, mas também é conhecida por Girassol-batateiro, provavelmente porque o seu rizoma é comestível e com uma consistência parecida com a da batata.

Eram estas as flores que floresciam por esta altura do ano no nosso jardim e são estas as flores que eu senti vontade de ter e tenho no meu jardim. Talvez uma forma inconsciente, de prestar homenagem à minha mãe e de suavizar a sua ausência.

Wilson Teixeira
Imagem: www.votunews.com.br

Para rematar esta mensagem sobre estas recordações do mês de Setembro, uma bonita canção, com o titulo, Flores de Setembro, interpretada pelo cantor brasileiro Wilson Teixeira, que pode ouvir clicando aqui.



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

SETEMBRO I

Setembro, traz-me nas memórias da minha infância, entre outras, o cheiro das figueiras e o sabor doce dos figos, o perfume e as cores das flores tradicionais, que sempre havia no nosso jardim e no quintal, e que eram cuidadas pela minha mãe. O sabor agri-doce das uvas Borraçal e o sabor bem doce das uvas Vinhão. O cheiro do mosto, depois da vindima das nossas uvas. Vagamente, muito vagamente, lembro-me também dos dias de férias em criança, passados em família, na praia da Póvoa de Varzim. Doces, como a fruta bem madura, são as lembranças desses dias.
Mais recente, a memória de uma das mais bonitas canções da musica ligeira portuguesa, cantada por uma das mais bonitas cançonetista daquela época, Madalena Iglésias; "Setembro", que pode ser ouvida clicando aqui.

Madalena IgIésias
Imagem: 6.fotos.web.sapo.io
Depois desta recordação de um passado mais próximo, outras recordações mais antigas.

Os figos
Setembro traz-me à memória também, as minhas subidas ás figueiras, para me empanturrar de figos.
Pela sua produção abundante e por não necessitar praticamente de cuidados, haviam figueiras em quase todos os quintais, em muitos, mais que uma. Sendo uma fruta muito apreciada, os figos de que eu tanto gosto, aqui na minha região, popularmente designam-se simplesmente pelos nomes de; figos brancos, figos pretos e figos verdes. Eu não fazia distinção, comia de qualquer uns. A variedade predominante e mais abundante era a dos figos verdes. 

Figos pretos
Imagem: Amazon.UK
A imagem acima mostra uma variedade de figos "pretos", idêntica aos figos que cresciam em algumas figueiras, nos quintais dos vizinhos e numa figueira enorme, que havia  num terreiro perto da  casa onde eu nasci.

Figos brancos
Os figos brancos eram naquele tempo tal como hoje por aqui, da variedade pingo de mel. Eram poucas as figueiras desta variedade. No quintal dos meus avós existiam duas grandes . Uma delas, por crescer inclinada, era a minha preferida, por ser muito fácil de trepar. Esta é uma fotografia dos dias de hoje, de figos pingo de mel, da minha figueira. 

Figos verdes
Estes figos, são de uma figueira que cresce não no quintal, mas numa bouça, junto à casa onde eu nasci. Talvez seja descendente de uma que o meu pai plantou, quando eu era criança, pois é da mesma variedade. Sinceramente, não sei qual o nome desta variedade de figos. O povo chama-lhes simplesmente figos verdes. Além de outros sítios, no quintal do meu bisavô, haviam desta variedade, três enormes figueiras.

Figos parecidos com os bacorinhos
Imagem: viaggiatore971.blogspot.pt
Havia também no nosso quintal, uma figueira diferente, que eu penso que era bravia (silvestre). Dava uns figos amarelados, pequeninos, mas muito bons, parecidos aos da fotografia acima. Chamavam-lhe figos bacorinhos. Era uma figueira única nas redondezas. Hoje já não existe.

Diz um ditado popular que: 
O figo, para ser bom, deve ter pescoço de enforcado, roupa de pobre e olho de viúva.

Quer isto dizer que o figo para estar bom, deve ter um pedúnculo comprido e murcho, a pele rota (rachada)  e murcha e uma lágrima (o pingo de mel). Estes são os sintomas de uma boa maturação e da altura ideal para se comerem.