segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ALMINHAS



"Ó tu mortal que vais passando
lembra-te das almas
que no purgatório estão penando".

Esta é uma quadra que frequentemente se vê nas diversas construções de alminhas, que ladeando caminhos ou em encruzilhadas por Portugal fora, vão chamando a atenção de quem passa, lembrando-nos que a nossa existência, não se resume unicamente aquilo que é material. Como todas as outras, a minha paróquia também têm as suas alminhas. A sua construção, talvez de meados do século vinte, em forma de uma micro-capelinha, bonita, de estilo refinado, edificada em pedra lavrada de granito azul, implantada no centro de um entroncamento, tem um formato triangular o que a torna muito singular, pois tem cada uma das três faces, viradas para as três estradas que a ladeiam. 
Passava diariamente perto dela e num dia de Agosto, vi-a rodeada por um bonito tapete azul de flores de agapanto, o que foi para mim uma inspiração, que tentei retratar numa tela da melhor forma que sei. 

As alminhas da minha paróquia

Finalidade das alminhas

As milhares de alminhas edificadas e dispersas pelo país, são representações de arte popular. Toscas ou trabalhadas a primor, têm todas a mesma finalidade: Confrontar os vivos que passam, apontando-lhes a relativa fragilidade da vida e o peso inevitável da morte. Têm também o conceito cristão, de lembrar as almas dos defuntos, pedindo para elas, as orações dos fieis ainda vivos. 


Trabalho com o fundo da paisagem concluído.
As alminhas, são monumentos de uma das expressões mais originais da arte popular portuguesa. De grande valor cultural, expressam a religiosidade do nosso povo. Muito se escreveu sobre estes populares monumentos. A seguir transcrevo excertos de textos sobre este tema, publicados no blogue: snpcultura.org

Aqui com as folhas dos agapantos e algumas flores por terminar

Portugal é o único país do mundo que possui no seu património cultural, localizadas habitualmente à beira de caminhos rurais e em encruzilhadas, as alminhas, representações populares das almas do Purgatório que suplicam rezas e esmolas e que frequentemente surgem em micro-capelinhas, padrões, nichos independentes ou incrustados em muros ou nos cantos de igrejas, painéis de azulejo ou noutras estruturas independentes."

Trabalho concluído
Tela 50 x 50 com tinta de óleo

"As alminhas são uma criação genuinamente portuguesa e não há sinais de haver este tipo de representação das almas do Purgatório, pedindo para os vivos se lembrarem delas para poderem purificar e "subir" até ao Céu, em mais lado nenhum do mundo a não ser em Portugal", afirma António Matias Coelho, professor de História, investigador de manifestações da cultura religiosa e popular
."


Pormenor
"São frutos de uma época em que se vivia devagar, mas de modo mais intenso, calcorreavam-se caminhos rurais de pé posto, junto aos quais se "plantavam" muitas alminhas, e se votava tempo aos antepassados com o temor reverencial de que a morte seria comungada por todos os vivos."

Manuel Fernandes Vicente, In Público, 02.11.2009




7 comentários:

  1. Hola Manuel,
    Tu pintura es realmente bonita, está llena de paz y verano. Las Agapanthus azules completan el azul del cielo y la montaña. Enhorabuena!

    Me encantaba como escribías sobre estas capillas de ’almas’. No sabía nada. En España he visto cruces solitarias - pero evidentemente no son la misma cosa. Muchas gracias, era muy interesante. - Y gracias por tu correo!

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    1. Gracias por su comentario. Las Alminhas, son pequeños santuarios, únicos de los portugueses.
      Continuación de una buena semana.

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  2. A lovely post and the painting is beautiful! You have a wonderful talent!

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    1. Thanks for your comment. I appreciate your opinion about my work.
      A hug.

      Manuel

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  3. Such an awesome thing that you still have in your country. You captured this one so well. Very impressive!!

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  4. Betty, thank you very much for your comment.
    Although many have been destroyed and others abandoned and vandalized, there are still some left to be admired and remembered, that our life is not so physical.

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