sábado, 1 de abril de 2017

Finais de Março

O mês de Março chegou ao fim. Não queria que este mês acabasse sem chamar a atenção para uma das suas particularidade,  à qual, por aqui, chama-mos "o Frio da Rama". Todos os anos, por meados deste mês, acontecem dias soalheiros em que as temperaturas sobem, rondando os vinte graus. Ora estes prazenteirosos dias, dão-nos a ilusão de que a Primavera já se instalou antecipadamente. Guardam-se as roupas mais grossas, vestem-se roupas mais ligeiras, os braços passam a andar ao léu, ocupam-se as esplanadas, etc... Passamos a ter a sensação, de que o frio só regressará no próximo Outono, mas, esta Primavera antecipada é pura ilusão, pois quando começa a despontar a rama das árvores, principalmente as dos carvalhos, infalivelmente, mais dia menos dia, as temperaturas descem e o frio instala-se novamente. Este ano não foi excepção e Março cumpriu com a tradição, brindando-nos com alguns dias de sol primaveril, por meados do mês, para logo de seguida, nos presentear com dias de vento frio, chuva e até com com nevões nas terras altas.
Março é assim! Por estas e por outras, lá diz o povo que:

"Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão".

O despontar da rama num bosque
Carvalhos, amieiros, cerejeiras em flor e outras espécies. É o mês de Março com a rama a despontar, criando a sua paleta de subtis nuances de verdes.

As "candeias" dos carvalhos

Os amentilhos da floração dos carvalhos, também chamados de candeias aqui na minha região. Muito discreta na cor, pois confunde-se com a rama, a abundante floração dos carvalhos com os seus amentilhos, faz lembrar os frocos das sedas chinesas.

Botões de macieira silvestre
As macieiras silvestres com os seus botões de vermelho escarlate, quebram a hegemonia dos verdes.

Flores da minha Forsítia 
A minha Forsítia com as suas flores. Centelhas de sol, que o Março guardou, para nos alegrar em dias cinzentos e nos lembrar que para além das nuvens, o sol está sempre a brilhar.

A Serra Amarela em meados de Março, vista da minha casa.
A Serra, que em tempos idos, durante a Primavera  e o Verão, se vestia de amarelo com o manto das flores que a cobriam e das quais restam esparsos retalhos, provavelmente devido aos incêndios e à consequente erosão. Quase de repente, fazendo justiça aos provérbios, Março brinda-nos com estas imagens de rara beleza, cobrindo-a com um alvo manto.

Serra do Soajo, vista da minha casa.
Quem sabe?...Talvez Março, com dó das serras, querendo ocultar as chagas que o fogo causou e lhe expuseram os ossos, cobriu-as de branco para iludir e dar uma fugaz alegria, a quem de longe as contempla.

Flor de Azalea do meu jardim

A natureza criou a Azalea para colorir e alegrar os dias frios e cinzentos do inverno. Quando as outras plantas se encontram em repouso, a Azalea já alegra os canteiros dos nossos jardins. A sua floração começa nos meses do Inverno e prolonga-se pela Primavera.

Erva-das-sete-sangrias
Bordejando os caminhos, nas encostas dos pinheirais e sobreirais, sempre meia oculta entre silvas e matos, como quem tem vergonha de se mostrar, a  Erva-das-sete-sangrias, com as suas pequeninas flores de um intenso azul, não passa despercebida, aos olhos de quem caminha. Encantam-me estas flores, pelo azul da sua cor.

Em Março, bouças e campos, tudo é verde da cor da esperança.
Soalheiros dias de Março, de esperanças renovadas nas mil e uma nuances do verde, que me fazem lembrar, o poema do nosso grande Luís Vaz de Camões:

Verdes são os Campos


Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

                                                               Luís de Camões (1524-1580)

Clique nesta ligação para ouvir o poema cantado; Verdes são os campos